quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lê Cuco no Projeto Parabólica

PARABÓLICA é captar sinais de vários pontos e os concentrar em um único. A superfície curva amplia possibilidades de captação e difusão de diversas referências culturais. A multiplicidade é formatada dentro de um processo de aproximação de músicos, compositores e bandas que, convidados a uma parceria pautada por muitas influências em suas composições, compartilham a diversidade e o ineditismo.
É antenado dessa forma que a 1ª edição do projeto PARABÓLICA surge e aposta no encontro das bandas Sr. Blan Chu e Triêro. Ambas tem suas histórias, suas peculiaridades e uma única paixão: a música. A primeira impressão é de estranheza, mas um segundo depois verificamos o quanto eles tem em comum: a produção autoral, com influências da cultura popular tradicional, mas sobretudo com a irreverência em passear por ritmos tradicionais do imaginário popular que, contemporaneamente, re-vestem os trabalhos desses músicos marcados pela urbanidade goiana.
ESPAÇO ANTENA:
Na área externa do Martim Cererê acontecerá o espaço Antena! Espaço com atividades complementares e preparatória para os shows das duas bandas: Sr. Blan Chu e Triêro. Na praça de alimentação produtos alimentícios diversos, (até sorvete!). Na feira de produtos culturais, tem: tenda de instrumentos musicais: Instrumentos de percussão, rabecas e sopros; E ainda: a Lê CUCO com a tenda de livros, com um acervo de literatura de cordel, artes, humanidades; roupas, sandálias, acessórios. No anexo ao bar, vai rolar projeções de vídeos e animações, ainda intervenções cênicas! e muita música!
Quando? – 24 de setembro
Onde? – Centro Cultural Martin Cererê
Quanto? – R$10,00 (antecipado)
Pontos de Venda: Harmonia Musical, Livraria UFG e Canela di Ema Produções (Praça do Cruzeiro, Galeria Cruzeiro Center, nº 175 – Setor Sul)


COMPAREÇAM!!!!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Eu sei mas não devia. Texto de Marina Colasanti



Autora: Marina Colasanti
Título: Eu sei, mas não devia.
Editora: Rocco
Ano: 1996


As crônicas reunidas neste livro são tecidas com a sensibilidade feminina de quem, com emoção, fala das questões do dia-a-dia, do amor, dos meninos de rua, de viagens e culturas, das coisas da vida - que a gente se acostuma, mas não devia.



"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia...

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.


E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.



A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.

E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma."

Sugestão de leitura

O Amor Esquece de Começar
Autor: Fabrício Carpinejar
Capa: Silvana Mattievich
Formato: 14 x 21cm
Páginas: 286 páginas
ISBN: 85-286-1171-X


O poeta gaúcho estréia na prosa com "O Amor Esquece de Começar". Martha Medeiros recomenda na apresentação da obra: "Entre o nonsense e a realidade, Fabricio Carpinejar é mestre em acertar no alvo, ora nos emocionando muito, ora nos emocionando bastante - as duas únicas reações que se pode ter diante deste livro escrito às ganhas".

Fonte: http://www.carpinejar.com.br/livros.htm

Fabrício Carpinejar, conheça!

Para os amantes da poesia e dos novos formatos de socialização, Fabrício Carpinejar, escritor e poeta de berço, dispara frenéticamente frases poéticas em seu twitter (http://twitter.com/CARPINEJAR). Acompanhe a entrevista do poeta, cedida à Revista Acesso Total e conheça seu estilo e sua obra.
  • Revista Acesso Total: Você já foi rotulado o poeta do Twitter, achas que com as redes sociais cada vez mais populares, a poesia pode ser desmistificada ao público mais jovem ou mesmo um público que não é adepto a literatura?
F. Carpinejar: Sim pode. O twitter não deixa de ser uma forma de pixar muros.


Confira a entrevista na íntegra: http://acessototalrevista.org/?p=6483